Sala de aula improvisada e 1ª escola do bairro: família de 7 professores conta histórias de profissão
15/10/2024
Sete dos dez irmãos da família Silva, do interior de São Paulo, se tornaram professores, inspirados pelo pai que adaptou uma sala de aula dentro de casa e construiu, com recursos próprios, a primeira escola de um bairro rural em Itapeva (SP). Família Silva, no interior de São Paulo, tem sete professores entre os dez irmãos
Arquivo Pessoal
A família Silva é composta por dez irmãos e irmãs espalhados por diversas cidades do interior de São Paulo. São sete mulheres e três homens e a carreira em comum entre a maior parte deles: a educação.
Dos professores da família Silva, Telma trabalha em Sorocaba (SP), Claudeli em Tatuí, Patricia em Itapetininga, Claudete em Ribeirão Branco - aposentada -, Claudorico, ainda lecionando, Claudenice e Claudina, também aposentadas, de Itapeva (SP).
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No Dia do Professor, comemorado nesta terça-feira (15), três dos Silvas contaram ao g1 sobre sobre a profissão, inspirações, desafios e memórias das salas de aula.
'Puxando a fila
Hoje aposentada da rede estadual de ensino, Claudete Ferreira da Silva foi a primeira professora da família. Ao g1, ela contou que lecionar não era a primeira opção, mas virou uma grande paixão e ainda ajudou a impulsionar o legado dos Silva's.
Ela começou a trabalhar em 1986. “Fiquei na sala de aula por sete anos e fui designada vice-diretora até 1998, quando passei no concurso e fui pra direção de escola até a aposentadoria, em 2015”, conta.
De acordo com ela, a faculdade mais próxima de Itapeva (SP), onde morava na juventude, oferecia apenas cursos de licenciatura. Claudete morava em um bairro rural que hoje pertence à Nova Campina (SP). O trecho, de mais de 30 quilômetros entre a casa e a faculdade, era todo de estrada de terra.
“Foi a profissão que me escolheu. Eu não pensava em ser professora, queria ser veterinária, mas como isso, pra minha realidade, na época, era muito difícil, tinha que ir embora de casa”, lembra. Então, ela fez o que era possível, foi ser professora. "Me apaixonei no primeiro dia”, lembra.
Da sala de aula, ela ainda tem muitas lembranças. “No primeiro dia, estava muito nervosa, pois seria professora de vários adultos que até então eram meus amigos”, conta Claudete.
Ela também diz que a moveu durante as rotinas na sala de aula. “O que me fazia sentir muita alegria era a vontade dos alunos em aprender, já que na época não tinha outra fonte de informação e aprendizagem que não fosse a escola. A vontade e a criatividade de alguns alunos em fazer diferente. O engajamento nos projetos. Não tínhamos material, livros, nem giz. Tudo era por conta do professor que tinha que passar a lição na lousa. São muitas memórias."
“Valeu cada dia! Não vi meus filhos crescerem, mas acompanhei o crescimento e desenvolvimento de muitos que hoje são pais, mães e profissionais honrados. Sinto que tem um pouco de mim e deixaram um pouco em mim . Através do trabalho que me foi confiado, conheci muitas pessoas, lugares, situações, pude dar uma boa formação aos meus filhos; enfim, minha vida tomou outro rumo."
Parte da família Silva, do interior de São Paulo, quem sete dos 10 irmãos na área da educação
Arquivo Pessoal
Sala de aula improvisada e 1ª escola do bairro
Com Telma Pereira da Silva, a ida para a ensino foi diferente. "A minha inspiração com relação à educação, começou com meu pai, um homem visionário que esteve além do seu tempo. Agricultor, sempre acreditou que a educação transforma vidas", conta.
Segundo ela, como forma de mostrar que acreditava na educação, tomou a atitude de ceder uma sala de sua casa, enquanto, com recursos próprios construía a primeira escola do bairro Lourenço Silva, em Itapeva. "Para que eu, meus irmãos e toda comunidade, tivesse acesso a educação", explica.
E a educação continua inspirando Telma.
"Trabalhar na educação me inspira profundamente porque acredito que é através dela que podemos transformar vidas e construir um futuro mais justo. A cada aluno, vejo a oportunidade de cultivar o conhecimento, estimular o pensamento crítico e ajudar no desenvolvimento de habilidades que serão fundamentais para o seu crescimento pessoal e profissional."
A caçula
Patrícia Pereira da Silva é a caçula da família de professores. Da mesma forma que a irmã mais velha, dar aula não era opção. “Eu queria ser qualquer coisa, menos ser professora. Corri de tudo que é forma. Comecei a fazer ciências contábeis, fiz técnica de enfermagem, comecei a fazer turismo. Fui pulando de galho em galho... Nunca passou pela minha cabeça ser professora”, comenta.
Mas tudo mudou aos 23 anos. “Sempre gostei de esporte, apesar de não saber praticar nada. Nem professor de educação física eu não queria." Só que pouco tempo depois, tudo mudou.
“Me apaixonei pela educação física escolar. A partir daí, comecei a fazer estágio no colégio, comecei a gostar de educação física escolar e comecei a gostar de escola. Depois como educação física não tinha muita área, eu fui fazer ciências sociais, e aí, gostei mais ainda de dentro de sala de aula, não só da quadra, mas dentro de sala de aula."
"Sempre falo toda vez que eu conto essa história, que não fui eu que escolhi a profissão, foi a profissão que me escolheu, e hoje eu não sei fazer outra coisa a não ser, ser professora."
Patrícia, que é professora desde 2010, fala sobre a principal motivação para continuar na profissão. “Acho que acreditar que posso fazer a diferença na vida de alguém, nem que seja de um aluno entre 500.”
A propósito, os três irmãos que decidiram por outros caminhos fora da educação atuam no setor de madeira, terraplanagem e mineração.
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